Como Canções e Pandemias | 2021

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01. CAÇA À RAPOSA
João Bosco e Aldir Blanc

O olhar dos cães, a mão nas rédeas
E o verde da floresta
Dentes brancos, cães
A trompa ao longe, o riso
Os cães, a mão na testa:
O olhar procura, antecipa
A dor no coração vermelho
Senhoritas, seus anéis, corcéis
E a dor no coração vermelho
O rebenque estala, um leque aponta:
Foi por lá! . . .
Um olhar de cão, as mãos são pernas
E o verde da floresta
– Oh, manhã entre manhãs! –
A trompa em cima, os cães
Nenhuma fresta
O olhar se fecha, uma lembrança
Afaga o coração vermelho:
Uma cabeleira sobre o feno
Afoga o coração vermelho
Montarias freiam, dentes brancos:
Terminou . . .
Línguas rubras dos amantes
Sonhos sempre incandescentes
Recomeçam desde instantes
Que os julgamos mais ausentes
Ah, recomeçar, recomeçar
Como canções e epidemias
Ah, recomeçar como as colheitas
Como a lua e a covardia
Ah, recomeçar como a paixão e o fogo

02. RESPOSTA AO TEMPO
Cristávão Bastos e Aldir Blanc

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei

Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei

E gira em volta de mim, sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos
Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer
No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer

03. CAUSA PERDIDA
Rosa Passos e Aldir Blanc

O meu amor vive em causas perdidas
sabe as datas vencidas
dos bens que não resgatei
Hei de voltar ao lugar
onde o amor se perdeu
e, pra não repetir
tudo que aconteceu,
vou fazer uma prece
a São Judas Tadeu.

Fui bobo demais
e deu no que deu:
fiquei sem ninguém.
Eu aprendi, tudo bem
só quero esquecer
Meu ex-amor, conto com você. Mas…
não me responda com esse sorriso
sem juízo que eu não vou…

Sei que da próxima vez
Em que eu falar em partir
Até São Judas Tadeu vai rir.

04. QUERIDO DIÁRIO
João Bosco e Aldir Blanc

Confesso, querido diário
Essa mulher me convulsiona
O ar de mártir no calvário
Dentro da bacanal romana

Garanto, querido diário
Que atrás da leve hipocondria
Convive a hóstia de um sacrário
Com o fogo da ninfomania (Hum…)

Hoje, acordei, tomei café, me masturbei
Comprei o jornal, fiz a fé no bicho
Pichei o governo
Me senti quadrado, fui ao analista, cantei “Babalu”
Mais fora de esquadro
Do que esquerdista no Grajaú

Tchu ru ru…
Confesso, querido diário
Essa “MUJER” me convulsiona
O ar de mártir no calvário
Dentro da bacanal romana

Garanto, querido diário
Que atrás da leve hipocondria
Convive a hóstia de um sacrário
Com o fogo da ninfomania (Hum…)

Hoje, acordei, tomei café, me masturbei
Comprei o jornal, fiz a fé no bicho
Pichei o governo
Me senti quadrado, fui ao analista, cantei Babalu
Mais fora de esquadro
Do que esquerdista no Grajaú

E o tempo todo, meu diário
Pensava nela com amargura
O arquipélago das sardas
Nas costas nuas, que loucura!

Constato, querido diário:
Muito pior do que esquecê-la
É encontrá-la pelas ruas
Dizer “Olá, prazer em vê-la!”

Constato, querido diário:
Muito pior do que esquecê-la
É encontrá-la pelas ruas
Dizer: “Olá, prazer em vê-la!”
Tchu ru ru…

05. POR FAVOR
Ivan Lins e Aldir Blanc

Doida
A língua bebe
A estranheza
Gosto de maçã, flor da nova Eva
A incerteza
Ensaia um não
Mas a voz do coração
Se antecipa e diz
Me leva
Eu que antes de ti
Considerava
Crises de paixão, coisa de covarde
Eu que amava o singular
Eu, que desmanchava o par
Só penso em pedir
Me invade, por favor
Por favor, por favor, por faaavoooooor

06. MUITO ALÉM. DO JARDIM
Moacyr Luz e Aldir Blanc

Que maravilha a buganvília
e o calmo dela no verão…
As flores tantas vêm dizer
que choram por mim…
ai, o meu passado um vento mau despetalou…
ai, o meu futuro, quem levou?
Ai…
Cresce a lembrança no meu coração
feito a buganvília ela cresce sem parar
não é bem saudade porque jamais deixou de ser
o tempo vivo em mim, ai…

Já não existe o velho casarão
mas a buganvília, essa cresce sem parar
e chora por mim lembrando de alguém
na casa ao lado
que foi o meu grande amor:
Já não existe o velho casarão
mas a buganvília, essa cresce sem parar
e chora por mim lembrando de alguém
na casa ao lado
que foi o meu grande amor:
a sempre-noiva
a sanguinária
que eu plantei e não vingou.

07. FILHO DE NÚBIA E NILO
Moacyr Luz e Aldir Blanc

Quando o negro se requebra
É a água na pedra que rolou por aí
Vem baiana/o e baticum
É a zarabatana e o dardo em só um
Quando bate palma
O suor da alma
Transparece na cor
Com malícia e rapa
É que o negro escapa
Das lições do feitor
Quando um negro entra na dança
O seu braço é uma lança
De guerreiro noir
Na cabeça mato e rocha
As fogueiras e as tochas
Iluminam o olhar
Meus pais Núbia e Nilo
Ensinaram os brilhos
Pra enfeitar o rancor
Com sorriso e farra
É que o negro escarra
Nas feições do feitor
Negro ginga, espanta no pé
A mendiga tsé-tsé
Xinga que essa língua é de fé
Ginga e figa só de guiné

08. CORSÁRIO
João Bosco e Aldir Blanc

Meu coração tropical
está coberto de neve mas
ferve em seu cofre gelado
a voz vibra e a mão escreve
mar
bendita lâmina grave que
fere a parede
e traz
as febres loucas e breves
que mancham o silêncio
e o cais
Roserais
Nova Granada de Espanha
por você
eu teu corsário preso
vou partir
a geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar
procurar o mar
Mesmo que eu mande em garrafas
mensagens por todo o mar
meu coração tropical
partirá esse gelo e irá
com as garrafas de náufragos
e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha
e as rosas partindo o ar
Roserais
Nova Granada de Espanha
por você
eu teu corsário preso
vou partir
a geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar
procurar o mar
Mesmo que eu mande em garrafas
mensagens por todo o mar
meu coração tropical
partirá esse gelo
e irá
com as garrafas de náufragos
e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha
e as rosas partindo o ar

Roserais
Nova Granada de Espanha
por você
eu teu corsário preso

09. O RANCHO DA GOIABADA
João Bosco e Aldir Blanc

É verão e a vida é difícil…
Os bóias-fria
Quando tomam umas birita
Espantando a tristeza,
Sonham com bife-a-cavalo, batata-frita
E a sobremesa
É goiabada cascão com muito queijo,
Depois café, cigarro e um beijo
De uma mulata chamada
Leonor ou Dagmar…

Amar
O rádio de pilha, o fogão jacaré, a marmita, o domingo
O bar
Onde tantos iguais se reúnem e contando mentiras
Pra poder suportar Ai…

São pais-de-santo, paus-de-arara, são passistas
São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados,
Dançando dormindo de olhos abertos à sombra
Da alegoria dos faraós embalsamados
É verão e a vida é difícil
E dadunti dadun… dadunti dadun tiiiiiiiiiiiiiii

10. ODALISCA
Guinga e Aldir Blanc

Ela sonha ter mais do que podia ter
Embriagada nas ondas do prazer
A boca é vinho tinto
As mãos são de absinto
E a cintura dela é a estrela por nascer
Escultura moldada pelas mãos de Deus
Sepultura dos que disseram adeus
O rosto é uma pintura
E os homens são molduras vazias
Que ela pode preencher

Por amor, a gente se transforma em São João Batista
A negar Salomé
De paixão, a gente faz proezas de malabarista
Fazendo até o que não quer

Odalisca
Artista da imaginação
Tão promíscua no harém do coração…
A cada um que pede
Promete conceder
Mas recusa Que a musa engana sem querer

Por amor, a gente se transforma em São João Batista
A negar Salomé
De paixão, a gente faz proezas de malabarista
Fazendo até o que não quer

Odalisca
Artista da imaginação
Tão promíscua no harém do coração…
A cada um que pede
Promete conceder
Mas recusa
Que a musa engana sem querer
Que a musa engana sem querer

11. RETRATO CANTADO
Marcio Proença e Aldir Blanc

Quem me vê sentado
atrás dessa mesa de escriturário,
não vê o tarado, o louco, o sanguinário,
o bárbaro sem véu,
o estripador cruel.
Não me vê no convés
de um veleiro de três mastros
me guiando pelos astros
a caminho de Bornéu.
Não sabem que eu roubo
meninos na praça quando a tarde cai
e que os vespertinos já me apelidaram
de monstro assassino
do Parque Shangai…
Mas eles não sabem
que eu sou gigolô de beira de cais
que eu sou o autor do crime da mala
que eu larguei o trapézio por beber demais…
E nem imaginam
as atrocidades que vou cometer
Não desconfiam
que a causa de tudo
é não conseguir me esquecer de você
Eu não consegui me esquecer de você…

12. VALE À PENA OUVIR DE NOVO
Sombra e Aldir Blanc

Sem você
O Rio de Janeiro perde o mel
E a vida anda feito um carrossel
Que às vezes pode enganar, mas que não sai do lugar
É um girar que faz sofrer
Eu quis pagar pra ver
Cadê você?

Sem você
O ensaio do meu bloco perde a luz
O giro da bandeira que seduz
Parece me hipnotizar porque nao sai do lugar
É fantasia sem depois
Uma novela reprisada por nós dois

Foi assim:
Na abertura teve música e maior amor
Mas no meio do caminho a trama complicou
Uma rival pintou com um leva-e-traz
Que eu tinha outra e não te amava mais
Que nos flagrou bebendo em Niterói
Essa é a parte que hoje mais me dói
Fosse por aqui “vá lá”

O final sem happy end se precipitou
Você foi morar na Ilha do Governador
Dizem até que um outro patrocinador
Entrou na história e pagou geral
O nosso amor que já foi carnaval
Agora é cinzas como na canção
Eu pergunto ao violão assim:

Sem você
Meu Deus, o que vai ser do coração?
Parceiro desse enredo que vivi
Mas puxador que atravessou em plena Sapucaí
E hoje quer se reeguer
Mas tira zero em harmonia sem você

13. ÊXTASE
Djavan e Aldir Blanc

Eu devia ter sentido o teu rancor
mas tava doido num jogo de vasco-ô-ô-ô!
Eu fiquei cego na estrada de damasco
e armei num botequim, virei a mesa
tava em êxtase que nem santa teresa
eu devia ter partido a tua cara
mas eu era um são sebastião flechado
mais um seu zé mané, ungido e mal pago
escada pro céu na rua da passagem
aura marginal do morto na garagem
barrabás, querubim, pinel
eu, xará, um bárbaro arataca saqueando roma
eu, xará, um bêbado babaca em estado de coma
eu, xará, o cordeiro de deus, o bode expiatório
a testemunha ocular que não tem nada a ver
o condenado que não tem nada a perder
o mordomo na chanchada de suspense
o presunto na baixada fluminense
a testemunha ocular que não tem nada a ver
o condenado que não tem nada a perder
o mordomo na chanchada de suspense
o presunto na baixada fluminense

Eu devia ter sentido o teu rancor
mas tava doido num jogo de vasco-ô-ô-ô!
Eu fiquei cego na estrada de damasco
e armei num botequim, virei a mesa
tava em êxtase que nem santa teresa
eu devia ter partido a tua cara
mas eu era um são sebastião flechado
mais um seu zé mané, ungido e mal pago
escada pro céu na rua da passagem
aura marginal do morto na garagem,
na garagem, na garagem

14. ALTOS E BAIXOS
Sueli Costa e Aldir Blanc

Foi, quem sabe, esse disco
Esse risco de sombra em teus cílios
Foi ou não meu poema no chão
Ou talvez nossos filhos
As sandálias de saltos tão altos
O relógio batendo, As sandálias, o relógio,
e eu batendo em teu rosto
E a queda dos saltos tão altos
Sobre os nossos filhos
Com um raio de sangue no chão
Do risco em teus cílios
Foram discos demais, desculpas demais
Já vão tarde essas tardes e mais tuas aulas
Meus táxis, whisky, Dietil, Diempax
Ah, mas há que se louvar entre altos e baixos
O amor quando traz tanta vida
Que até pra morrer leva tempo demais…

Ismael Silva: Uma Escola de Samba | 2015

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Augusto, Cláudio, mais 14 sambas num CD e 4 outros na internet. Essa é a comissão de frente de “Ismael Silva: uma escola de samba”. Augusto Martins é cantor, maneja o pandeiro com maestria e tem 6 álbuns no currículo. Cláudio Jorge mescla composição e violão + voz, com centenas de gravações e mais 4 trabalhos com seu nome na capa. Artistas, músicos cariocas que tabelam a paixão pelo samba num mergulho no universo deste compositor-lenda atemporal que fundou a primeira escola de samba do Brasil.

01. O QUE SERÁ DE MIM
Ismael Silva / Francisco Alves / Nilton Bastos

Se eu precisar algum dia
De ir pro batente
Não sei o que será
Pois vivo na malandragem
E vida melhor não há
Minha malandragem é fina
Não desfazendo ninguém
Deus é quem nos dá a sina
E o valor dá-se a quem tem
Também dou a minha bola
Golpe errado ainda não dei
Eu vou chamar o Cláudio Jorge
Na viola ele é rei
Oi, não há vida melhor
Que vida melhor não há
Deixa falar quem quiser
Deixa quem quiser falar
O trabalho não é bom
Ninguém pode duvidar
Trabalhar só obrigado
Por gosto ninguém vai lá

02. A RAZÃO DÁ-SE A QUEM TEM
Ismael Silva / Noel Rosa / Francisco Alves

Se meu amor me deixar
Eu não posso me queixar
Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém
A razão dá-se a quem tem

Sei que não posso suportar
(Se meu amor me deixar)
E de saudades eu chorar
(Eu não posso me queixar)
Abandonado sem vintém
(Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém)
Quem muito riu chora também
(A razão dá-se a quem tem)

Eu vou chorar só em lembrar
(Se meu amor me deixar)
Dei sempre golpe de azar
(Eu não posso me queixar)
Pra parecer que vivo bem
(Vou sofrendo sem dizer nada a ninguém)
A esconder que amo alguém
(A razão dá-se a quem tem)

03. MEU ÚNICO DESEJO
Ismael Silva

Tu devolveste meu retrato,
minhas cartas
E os presentes, nada disso eu aceitei
O que eu só faço questão
de receber e devolver
São os beijos que te dei

Se não é esse o meu único desejo
Não quero mais poder me retirar daqui
Quanto mais fecho os meus olhos,
mais te vejo
Quanto mais foges
mais me sinto junto a ti

Tu devolveste meu retrato,
minhas cartas
E os presentes, nada disso eu aceitei
O que eu só faço questão
de receber e devolver
São os beijos que te dei

04. ME DIGA TEU NOME
Ismael Silva

Tens um olhar
Que me consome

Tens um olhar
Que me consome

Por caridade
Meu bem me diga teu nome

Por caridade
Meu bem me diga teu nome

Em perguntar penso que não faço mal
Em perguntar penso que não faço mal

Tens um olhar que nunca vi outro igual
Tens um olhar que nunca vi outro igual

05. TODO MUNDO QUER / NEM É BOM FALAR
Ismael Silva – Ismael Silva/ Francisco Alves/ Nilton Bastos

Trabalho igual ao meu
Todo mundo quer
Mas nem todos podem arranjar
Pego às 11 horas
Largo ao meio dia
E tenho uma hora pra almoçar

Fico às vezes até sem comer
Só pra não mastigar
Não há coisa melhor
Do que não fazer nada
E depois descansar

Nem tudo que se diz se faz
Eu digo e serei capaz
De não resistir
Nem é bom falar
Se a orgia se acabar
Tu falas muito, meu bem
E precisas deixar
Senão eu acabo
Dando pra gritar na rua
Eu quero uma mulher bem nua.
Mas esta vida
Não há quem me faça deixar
Por falares tanto
A polícia quer saber
Se eu dou meu dinheiro todo a você

Até que enfim
Eu agora estou descansado
Até que enfim
Eu agora estou descansado
Ela deu o fora
Foi morar lá na Favela
E eu não quero saber mais dela

06. ANTONICO
Ismael Silva

Ôh Antonico
Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim

Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo muito bem, se Deus quiser
E agradeço pelo que você fizer

07. PRA ME LIVRAR DO MAL
Ismael Silva / Noel Rosa / Francisco Alves

Estou vivendo com você
Num martírio sem igual
Vou largar você de mão
Com razão
Para me livrar do mal.

Supliquei humildemente
Pra você endireitar
Mas agora, infelizmente
Nosso amor vai se acabar.

Vou-me embora afinal
Você vai saber porque
É pra me livrar do mal
Que eu fujo de você.

Você teve a minha ajuda
Sem pensar em trabalhar
Quem se zanga é quem se muda
E eu já tenho onde morar.

Nunca mais você encontra
Quem te faça o bem que eu fiz
Levei muito golpe contra
Passe bem, seja feliz

08. CONTRASTES
Ismael Silva

Existe muita tristeza
Na rua da alegria
Existe muita desordem
Na rua da harmonia

Analisando essa estória
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro palhaço

Cada vez mais me embaraço
Analisando essa estória
Existe muito fracasso
Dentro do largo da Glória

Analisando essa estória
Cada vez mais me embaraço
Quanto mais longe do circo
Mais eu encontro palhaço

09. QUEM NÃO QUER SOU EU
Ismael Silva e Noel Rosa

Quando eu queria o teu amor
Não davas atenção ao meu
Pra mim tu não tens mais valor
Agora quem não quer sou eu

Observo que hoje em dia
Quem não quis diz que me quer
Cabe muita hipocrisia
Num capricho de mulher
Vou viver desiludido
Sem amor, sem ideal
Pra não ser submetido
A desejo tão banal

Ao ouvir tua proposta
De tão falsas frases juntas
Achei uma só resposta
Que responde mil perguntas
Hás de ter em tua vida
Um destino igual ao meu
Podes ir desiludida
Hoje quem não quer sou eu

10. PEÇAM BIS
Ismael Silva

A todos que estão me ouvindo
Eu agradeço
Esta atenção dispensada
É mais do que mereço

Se não gostarem
Não digam nada a ninguém
Senão os outros
Não vão me aturar também

Não vão fazer
O que aconteceu certo dia
Foi tanto bis
Que eu já não podia atender
No entretanto
O que a plateia queria
É que eu cantasse
Cantasse até aprender

11. DONA DO LUGAR
Ismael Silva / Noel Rosa / Francisco Alves

Chegou a dona do lugar
Chegou…
Pelo modo de pisar
Se vê que é Iaiá de Ioiô

Lá vem ela, lá vem ela
Com o Ioiô do seu lado
Arrastando a chinela
Dizendo samba raiado

Quando ela pega a sambar
Com o seu sapateado
Todos ficam a gritar
Dando viva ao Cais Dourado

E essa bela Iaiá
Não acredita em muamba
Ela tem uma patuá
Que é todo o nosso samba
Vou pedir, vou implorar
A meu Senhor do Bonfim
Pra fazer essa Iaiá
Se apaixonar por mim

12. NINGUÉM TEM QUE ACHAR RUIM/SE VOCÊ JURAR
Ismael Silva – Ismael Silva/ Nilton Bastos/ Francisco Alves

De mim você não tem razão,
de se queixar.
Assim você faz confusão,
no nosso lar.

Se eu sou do samba, ninguém tem
que achar ruim.
Você me conheceu vivendo assim.
Tocando o tamborim. (bis)

Não vá pensar que dança,
música e bebida enfim,
apareceram exclusivamente para mim.
Você também se por acaso,
numa farra entrar,
talvez até ocupe o meu lugar.
E sem se demorar.
De mim você não tem razão…

Se você jurar que me tem amor
Eu posso me regenerar
Mas se é para fingir, mulher
A orgia assim não vou deixar
Muito tenho sofrido
Por minha lealdade
Agora estou sabido
Não vou atrás de amizade
A minha vida é boa
Não tenho em que pensar
Por uma coisa à-toa
Não vou me regenerar

A mulher é um jogo
Difícil de acertar
E o homem como um bobo
Não se cansa de jogar
O que eu posso fazer
É se você jurar
Arriscar a perder
Ou desta vez então ganhar

Violão, Voz e Zé Kéti – 2013

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Zé Kéti, violão e voz. Ingredientes perfeitos para um belo álbum repleto de brasilidade. Zé Kéti é uma instituição nacional. Seu nome leva o samba e o Rio de Janeiro, para todo o país. Marcel e Augusto injetam uma sonoridade muito original e paradoxalmente respeitosa dessa obra irretocável. Nela o cantor carioca e o violonista franco brasileiro passeiam com raro refinamento e desenvoltura.

01. DIZ QUE FUI POR AÍ
Zé Kéti e H.Rocha

Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando o violão  embaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
E se houver motivo
É mais um samba que eu faço
Se quiserem saber / se volto diga que sim

Mas só depois que a saudade se afastar de mim
Só depois que a saudade se afastar de mim

Tenho um violão / para me acompanhar
Tenho muitos amigos / eu sou popular
Tenho a madrugada / como companheira
A saudade me dói / o meu peito me rói
Eu estou na cidade / eu estou na favela
Eu estou por aí sempre pensando nela

Se alguém perguntar por mim…

02. TAMBORIM
Zé Kéti

Cavei muito buraco na avenida
Pra ajudar no progresso do metrô
Fui feirante e vendi muito bagulho
Muitas vezes o rapa me apanhou

Estudei me formei em camelô
Na escola da vida eu sou doutor
Meu dinheiro jamais deu pra viver
Da polícia já tive que correr

E quem sabe que um dia possa ser
Na política um governador
E com meu Tamborim eu vou cantar
Para o povo a minha grande dor

Eu já disse o que fui, o que não sou
Vou morrer na favela por amor

Tamborim, meu velho amigo tamborim
O mundo é de ninguém
Ai meu Deus do Céu
A vida é mesmo assim, Tamborim

Tamborim, meu velho amigo tamborim
A batida do meu coração ta chegando ao fim
Já não agüento bater mais no meu tamborim

Tamborim, meu velho amigo tamborim

03. NEGA DINA
Zé Kéti

A Dina subiu o morro do Pinto
Pra me procurar
Não me encontrando, foi ao morro da Favela
Com a filha da Estela
Pra me perturbar
Mas eu estava lá no morro de São Carlos
Quando ela chegou
Fazendo escândalo, fazendo quizumba
Dizendo que levou
Meu nome pra macumba
Só porque faz uma semana
Que não deixo uma grana
Pra nossa despesa
Ela pensa que minha vida é uma beleza
Eu dou duro no baralho
Pra poder viver
A minha vida não é mole, não
Entro em cana toda hora sem apelação
Eu já ando assustado, sem paradeiro
Sou um marginal brasileiro

04. OPINIÃO
Zé Kéti

Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer
Que eu não mudo de opinião
Daqui do morro
Eu não saio, não

Se não tem água
Eu furo um poço
Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar
Fale de mim quem quiser falar
Aqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutor
Estou pertinho do céu

05. FLOR DO LODO
Zé Kéti

Eu vou te dar a mão
Pra te puxar da lama
Onde estás caída
Tu és a flor do lodo
Em minha vida
Teu nome é mulher fingida

Dentro da noite ouvi a tua voz a me chamar
Pedindo pra te socorrer
Aqui estou pra te prestar mais um favor
E entre nós tudo terminou

Na hora do teu desespero me procuras
Eu não quero o teu fingido Amor, nem tuas juras
Eu quero apenas evitar o teu suplício
Perante Deus estou fazendo um benefício

Vai flor do lodo e não tornes a cair
Nesse tristonho lamaçal
É simplesmente um conselho
De um velho amigo
Que não quer teu mal

06. LEVIANA
Zé Kéti

O azar é seu
Em vir me procurar
Me abandona, me deixa
Não quero mais ver
A luz do seu olhar
Você manchou um lar que era feliz

Agora quer voltar
Leviana
Sinto muito, mas vai tratar da sua vida
Leviana
Precisando eu lhe posso dar uma guarida

Mas o meu lar
Sente vergonha como eu
O nosso amor morreu

07. MADRUGADA
Zé Kéti

A mulher só vive a reclamar
Eu não tenho hora pra chegar
Sou bohemio, tenho que beber
Nunca estou em casa pra jantar
Ela diz que qualquer dia vou morrer
Sou da noite, a noite é toda minha
Tenho compromisso com a lua
Minha vida é andar na rua
A cantar para os amigos meus
Na esquina ou no botequim
Até deus nosso senhor lembrar de mim

Madrugada é a minha companheira
manhece eu estou na brincadeira
Vou pra casa, vou dormir, vou descansar
A noite chega, me pede pra voltar

08. ACENDER AS VELAS
Zé Kéti

Acender as velas
Já é profissão
Quando não tem samba
Tem desilusão  / Quando não sou eu é Nara Leão

É mais um coração
Que deixa de bater
Um anjo vai pro céu
Deus me perdoe
Mas vou dizer
O doutor chegou tarde demais
Porque no morro
Não tem automóvel pra subir
Não tem telefone pra chamar
E não tem beleza pra se ver
E a gente morre sem querer morrer (2x)

09. MÁSCARA NEGRA
Zé Kéti e Pereira Matos

Tanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão

Foi bom te ver outra vez
Tá fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou
Que te beijou, meu amor
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval

10. MALVADEZA DURÃO
Zé Kéti

Morreu Malvadeza Durão
Valente, mas muito considerado

Mais um malandro fechou o paletó
Eu tive dó, eu tive dó
Quatro velas acesas em cima de uma mesa

E uma subscrição para ser enterrado
Morreu Malvadeza Durão
Valente, mas muito considerado

Céu estrelado, lua prateada
Muitos sambas, grandes batucadas
O morro estava em festa quando alguém caiu

Com a mão no coração, sorriu
Morreu Malvadeza Durão
E o criminoso ninguém viu.

11. AMOR PASSAGEIRO
Zé Kéti e Jorge Abdala

Já não existe mais nada
Entre nós tudo se acabou

Só me resta agora a saudade
Do amor foi tudo que ficou
Olho pro céu e imploro
Perdão ao meu criador

Esse amor tão passageiro
Só recordações me traz
Vai meu samba
Vai meu companheiro
Vai dizer ao meu amor
Que não suporto mais

12. A VOZ DO MORRO
Zé Kéti

Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei dos terreiros
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Mais um samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Viva o samba, vamos cantando
Essa melodia pro Brasil feliz

Açaí

Samba Brazil