O disco flagra um cantor debruçado sobre uma obra de horizonte infinito, onde foi possível abraçar convidados e amigos ilustres como Beth Carvalho e Seu Jorge, Leila Pinheiro e João Donato, Aquarela Carioca, Fátima Guedes, Yamandú Ney Conceição e tudo isso acompanhado por um time de músicos de primeiríssima linha.
Produção e Concepção: Augusto Martins
Direção Musical: Paulo Malaguti
Direção Artística: Braulio Neto e Augusto Martins
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O nome do CD é imediato “Augusto Martins canta Djavan”. Ao contrário de sua audição pois o cd traz quatorze faixas, que se transformam em territórios livres para questionar limites estéticos. E como!
Depois do aplaudido disco de estréia que trazia seu nome na capa, de 1997, quando já relia as dijavanescas “Muito obrigado” e “Samba dobrado”, o cantor – coisa rara no país onde pululam canárias e compositores – perseguiu outras nuances criativas de um dos maiores autores da MPB, transcrevendo com a voz este universo de caligrafia tão singular.
Bases acústicas norteiam quase todo o trajeto do trabalho. Mas aqui e ali pontuam gaita – vide a interpretação endiabrada já na abertura, “Sina”; cello rascante na desacelerada “Eu te devoro”; violão de aço, timbre árido, em “Lambada de serpente”.
Mas o CD subverte expectativas quando, de forma sutil, também apresenta grooves eletrônicos, tanto em “Flor-de-lis”, que encerra os trabalhos, quanto na faixa bônus, um remix de “Eu te devoro”.
“Augusto Martins canta Djavan” flagra um cantor debruçado sobre uma obra de horizonte infinito, onde foi possível abraçar convidados e amigos ilustres sob o olhar do alagoano.
Na dobradinha dos sambas “Capim/Beiral”, Beth Carvalho e Seu Jorge. “Desejo” traz João Donato ao piano e o auxílio-luxuoso de Leila Pinheiro. Afinação que se estende ao encontro com o Aquarela Carioca em “Dou-não-dou”. Encerrando a estação das parcerias, “Outono” traz à superfície o timbre profundo de Fátima Guedes num diálogo emoldurado pelo violão de Yamandú.
Em “Augusto Martins canta Djavan” as faixas se sucedem feito trilha sonora diante do ouvinte _ cenários em uma bela tela. O som repercute, o cantor pinta e borda no primeiro trabalho dedicado à obra deste autor feito por um único intérprete.
Bem, sobre o time de músicos que secunda tais melodias vocais e toda produção desse disco é melhor conferir escutando o disco. Braulio Neto
Confira as letras das músicas:
01. SINA
Djavan
Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome pra poder falar de amor
Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz
A luz de um grande prazer é irremediável neon
Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon
O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom
Arranjo: Israel Meirelles e Paulo Malaguti
Violões aço: Paulo Muylaert
Baixolão: Bombom
Percussão: Edu Szajnbrum
Gaita: Israel Meirelles
Vocais: Augusto Martins
02. ASA
Djavan
A manhã me socorreu com flores e aves
Suaves, soltas, em asa azul
Borboletas em bando
Diz que pedra não fala
Que dirá se falasse
Eu, Ana? Me ama
Me queima na sua cama
O veludo da fala
Disse: Beijo, que é doce
Me prende, me iguala
Me rende com sua bala
Se disfarce de Zeus
De Juruna na deusa
Azul
Se me comover
Eu já sei que é tu
Claridade de um novo dia
Não havia sem você
Você passou, eu me esqueci
O que ia dizer
O que há pra falar
Onde leva essa ladeira
Que tristes terras vencerá
Um intérprete tocando Blues?
O que há pra falar, onde leva essa ladeira
Que tristes terras vencerá
Um intérprete inventando Blues?
O que há pra falar, onde leva essa ladeira
Que tristes terras vencerá
Um intérprete delirando no Blues?
Arranjo: Augusto, Ney e Edu
Baixo elétrico: Ney Conceição
Pandeiro: Edu Szajnbrum
03. EU TE DEVORO
Djavan
Teus sinais
Me confundem
Da cabeça aos pés
Mas por dentro
Eu te devoro,
Teu olhar
Não me diz exato
Quem tu és
Mesmo assim
Eu te devoro…
Te devoraria
A qualquer preço,
Porque te ignoro,
Te conheço,
Quando chove ou
Quando faz frio,
Noutro plano
Te devoraria
Tal Caetano
A Leonardo DiCaprio…
É um milagre,
Tudo que Deus criou
Pensando em você,
Fez a via-láctea
Fez os Dinossauros,
Sem pensar em nada
Fez a minha vida
E te deu,
Sem contar os dias
Que me faz morrer,
Sem saber de ti
Jogado à Solidão,
Mas se quer saber
Se eu quero outra vida
Não! Não!
Eu quero mesmo é viver
Pra esperar, esperar
Devorar você.
Arranjo: Paulo Malaguti
Cello: Lui Coimbra
Violão aço e guitarra: Marcus Nabuco
Violão nylon: Gustavo Martins
Baixo acústico: Dôdo Ferreira
Percussão: Edu Szajnbrum
04. DESEJO
Djavan
Você nem sabe
O que é uma vida reduzida à paixão
Daí, tudo é ilusão
Tudo é ilusão
Sentir saudade
Prender uma vida
Pela respiração
Assim, tudo é ilusão
Tudo é ilusão
Se queixa em não ter o mar à mão
Com esse calor o dia é dor
Se queixa do nada que tiver
Não que se possa tudo querer
nem tudo é o que se quer
Amor, amor
Plantado ao coração
Foi brotar de um beijo
Aí já não é ilusão
É o meu desejo
Participação especial: Leila Pinheiro e João Donato
Arranjo e piano acústico: João Donato
Gaita: Israel Meirelles
Guitarra: Ricardo Silveira
Baixo: Ney Conceição
Bateria e percussão: Robertinho Silva
05. AÇAÍ
Djavan
Solidão de manhã,
Poeira tomando assento
Rajada de vento,
Som de assombração,
Coração
Sangrando todas palavras são
A paixão puro afã,
Místico clã de sereia
Castelo de areia
Ira de tubarão, ilusão
O sol brilha por si
Açaí, guardiã
Zum de besouro um ímã
Branca é a tez da manhã
Açaí, guardiã
Zum de besouro um ímã
Branca é a tez da manhã
Arranjo: Paulo Malaguti
Violão nylon: Gustavo Martins
Violão aço: Marcus Nabuco
Percussão e loop: Edu Szajnbrum
Baixo acústico: Dôdo Ferreira
Gaita: Israel Meirelles
06. AZUL
Djavan
Eu não sei
Se vem de Deus
Do céu ficar azul
Ou virá
Dos olhos teus
Essa cor
Que azuleja o dia…
Se acaso anoitecer
E o céu perder o azul
Entre o mar e o entardecer
Alga marinha, vá na maresia
Buscar ali um cheiro de azul
Essa côr não sai de mim
Bate e finca pé
A sangue de rei…
Até o sol nascer amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho, cedinho (cedinho)
Corre e vá dizer
Pro meu benzinho
Um dizer assim
O amor é azulzinho…
Até o sol nascer amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho, cedinho cedinho
Corre e vá dizer
Pro meu benzinho
Um dizer assim
O amor é azulzinho…
Arranjo: Israel Meirelles e Paulo Malaguti “Pauleira”
Violões de aço e nylon: Paulo Muylaert
Baixo acústico: Augusto Matoso
Percussão: Edu Szajnbrum
Trombone: João Luiz
Trompete: Newton Rodrigues
07. ME LEVE
Djavan
Quem mandou me seduzir ?
Se você for, me leve daqui
Pra onde vá
Eu agora sou seu par
Quando sair, me leve com você
Então não vá
Hoje quando eu fui te ver, bem
Lembrando as coisas mais banais
Parei lá no lugar, você já não tava mais
Rio de Janeiro secou
Ou não? Quem sabe eu esqueci você noutro lugar?
Sei lá, Guarapari…
Tudo que era azul ficou down
Que mau não ter você ali
Ninguém me viu chorar, mas tá doendo
Arranjo e teclado: Paulo Malaguti “Pauleira”
Violão aço e guitarra: Paulo Muylaert
Sax: Peter O”Neill
Baixo elétrico: Ricardo Feijão
Bateria e percussão: Edu Szajnbrum
Vocais: Augusto Martins
08. LAMBADA DE SERPENTE
Djavan e Cacaso
Cuidar do pé de milho que demora na semente
Meu pai disse: “meu filho, noite fria, tempo quente”
Lambada de serpente à traição me enfeitiçou
Quem tem amor ausente já viveu a minha dor
Do chão da minha terra, um lamento de corrente
Um grão de pé de guerra pra colher dente por dente
Lambada de serpente à traição me enfeitiçou
Quem tem amor ausente já viveu a minha dor
Arranjo: Augusto Martins
Teclado: Paulo Malaguti “Pauleira”
Violão aço: Gustavo Martins
09. OUTONO
Djavan
Um olhar uma luz
Ou um par de pérolas
Mesmo sendo azuis
Sou teu e te devo por essa riqueza
Uma boca que eu sei
Não porque me fala lindo, e sim beija bem
Tudo é viável pra quem faz com prazer
Sedução, frenesi, sinto você assim
Sensual, árvore
Espécie escolhida pra ser a mão do ouro
O outono traduzir
Viver o esplendor em si
Tua pele um Bourbon
Me aquece como eu quero, sweet home
Gostar é atual, além de ser tão bom
Participação especial: Fátima Guedes
Arranjo e violão: Yamandú Costa
Arranjo e baixo elétrico: Ney Conceição
10. ESFINGE
Djavan
O mar vazou de uma paixão, atravessou meus olhos
Encheu a minha mão, caiu no chão em doces gotas de amor
Evaporou na noite, nublou o céu de estrelas
E derramou manhã
Se o amor sabe de tudo fazer,
Pode ter um jeito de acasalar
O canto do mar, com minha voz de cantor
E fazer do meu canto um brado tão fundo
Que só um grande amor atinge
Pra amolecer o mundo e seu coração de esfinge
Arranjo e teclado Paulo Malaguti “Pauleira”
Guitarra: Paulo Muylaert
Sax e flauta: Peter O”Neill
Baixo elétrico: Ricardo Feijão
Bateria e percussão: Edu Szajnbrum
11. DOU NÃO DOU
Djavan
Você me faz sofrer
E diz que chorar não faz mal a ninguém
Eu quero ver meu bem
Quando você vai querer crescer
Não vê que além de ti
Não existirá no mundo mais ninguém
Também se mais houver é loucura
Refaça e diga que me quer namorar, criatura do céu
E a gente faz amor quando tiver que acontecer
Se eu te desejo logo posso esperar
Que um dia vou ver a fera ronronar com doçura
Aí quem sabe a gente emenda
Aí quem sabe a gente vá
Depois da explosão do vem, meu bem, dou-não-dou
Se apaixonar
O tempo passa, o amor aumenta
E tudo passa a ser demais
E a sensação de conviver com a dor cai
Participação especial: Aquarela Carioca
Arranjo e teclados: Paulo Malaguti “Pauleira”
Guitarra: Paulo Muylaert
Sax soprano: Mário Sève
Percussão e looping: Edu Szajnbrum
Baixo elétrico: Ricardo Feijão
12. PEDRO BRASIL
Djavan
Sorria para mim meu Brasil, assim…
Ria largo do fundo, aqui
Ria aqui do nada
Não vá trair o seu dom de cair de pé
Logo agora que eu escrevi
Uma canção de fé
Atenção: quem descobriu o Brasil foi Pedro,
Quem libertou o Brasil foi Pedro
Quem construiu o Brasil foi Pedro
Quem descobriu… Quem libertou… Quem construiu…
Quem já se viu tanto Pedro viver assim
Feito coisa ruim, no ar
Bem fez Pedro lá no céu que aprendeu chover, estiar
E hoje tem grande poder prá lá, mas nada pode aqui
Arranjo e teclado: Paulo Malaguti “Pauleira”
Guitarra e violão aço: Paulo Muylaert
Violão nylon: Gustavo Martins
Baixolão: Ricardo Feijão
Bateria e percussão: Edu Szajnbrum
Harmônica: Israel Meirelles
13. CAPIM / BEIRAL
Djavan
Capim
Capim do vale, vara de goiabeira
Na beira do rio, paro para me benzer
Mãe d’água sai um pouquinho desse seu leito ninho
Que eu tenho um carinho para lhe fazer
Pinheiros do Paraná que bom tê-los como areia no mar
Mangas do Pará pitombeiras da Borborema
A ema gemeu no tronco do juremá
Cacique perdeu mas lutou que eu vi
Jari não é deus mas acham que sim
Que fim levou o amor
Plantei um pé de fulô, deu capim
Beiral
Eu juro te querer
Enquanto o ouro do turno da tarde cair no beiral
Foi como eu disse a você sem lhe ter falado
Meu lado, luz acesa de pescador
Bom de mar, quer me ver sonhar
Traz a tua vida mais pra perto de mim
Tarde cai
E na descida se acabou de ver
O sol do lavrador
Brilhará, gritará na sua luz
Fez sinal que um dia desse deus dará em dobro
E finalmente se escondeu
A noite vem que vem e eu aí, mas
Não tava à toa, tava contente
Tava com meu bem no canto da mente
Participação especial: Beth Carvalho e Seu Jorge
Arranjo e violão: Josimar Monteiro
Trompete: Nelson Oliveira
Cavaquinho: Márcio Almeida
Baixo: José Luiz Maia
Bateria: Sérgio Vieira
Percussão: Thalamy
14. FLOR DE LIS
Djavan
Valei-me Deus, é o fim do nosso amor
Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu
Mas não sei o que fez tudo mudar de vez
Onde foi que eu errei
Eu só sei que amei, que amei, que amei, que amei
Será talvez que minha ilusão foi dar meu coração
Com toda força pra essa moça me fazer feliz
E o destino não quis
Me ver com raiz de uma flor de Lis
E foi assim que eu vi nosso amor na poeira, poeira
Morto na beleza fria de Maria
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria, nem margarida nasceu
E o meu jardim da vida ressecou, morreu
Do pé que brotou Maria, nem margarida nasceu
Arranjo e teclado: Paulo Malaguti “Pauleira”
Violão aço: Paulinho Athayde
Violão nylon: Gustavo Martins
Baixolão: Bombom
Percussão: Edu Szajnbrun
15. EU TE DEVORO (REMIX)
Djavan
Mixado e masterizado por Paulo Brandão no Brand Estúdio